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sábado, 28 de dezembro de 2024

Um pouco de História - Lages do Pico - Açores

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Povoamento e organização do território
O primeiro local de povoamento da ilha do Pico foi junto ao Penedo Negro, na enseada do Castelete, ao Sul da actual vila das Lajes, um pouco antes de 1460.
A violência do mar permitiu apenas que pusesse pé em terra firme o navegador Fernando Álvares Evangelho.
Nas novas terras ele e o seu cão viveram cerca de um ano, junto da Ribeira, à saída da vila – durante muitos anos conhecida por Ribeira Fernando Álvares (ainda hoje se conservam as ruínas da casa que então lá construiu).
Quando os companheiros de Fernando Álvares regressaram ao Pico, desembarcaram em Santa Cruz das Ribeiras. Alguns ficaram por aqui, como Jordão Álvares Caralta. Outros no sítio da Maré, junto ao local do primeiro desembarque. Além das suas habitações, edificaram ali a Ermida de S. Pedro (ainda existente), onde foi pároco da ilha, o primeiro, Frei Pedro Gigante (considerado por alguns historiadores o introdutor da casta Verdelho).
Alvaro de Ornelas foi o primeiro Capitão-Donatário nomeado para a ilha do Pico mas nunca chegou a tomar posse. Jôs d’Utra (Jobst de Van Huertere, de origem flamenga) já Capitão-Donatário do Faial, tomou a seu cargo em 1482 a Capitania do Pico.
A Vila das Lajes, tal como acontece com outras vilas do Arquipélago dos Açores, não tem foral. Em 1500, terá a primeira câmara das Lajes tido já uma vereação de “homens bons”.
Por um alvará de 14 de Maio de 1501, o Capitão Jôs d’Utra conferiu poder e autoridade a Fernando Álvares para dar licenças diversas aos povoadores. Lajes foi o primeiro concelho da do Pico e até 1542 foi-o de toda a ilha (a casa da câmara, situada na praça que hoje tem a igreja Matriz, já existia em 1503).
Um cálculo realizado por Lacerda Machado a partir do Espelho Cristalino aponta para 250 habitantes na ilha em 1506. A vida e os modos de a organizar corriam o seu normal curso na segunda maior ilha do arquipélago.
Em 1540, o concelho das Lajes (toda a ilha) contava já com as freguesias de Santa Bárbara (Ribeiras), Santíssima Trindade (Lajes), São Mateus, Santa Maria Madalena, São Roque e Nossa Senhora da Ajuda.
Em 1542, foi criado por D. João III o Concelho de Vila Nova de São Roque, com as freguesias de São Roque (sede), Nossa Senhora da Ajuda e Madalena. Em princípios de 1543 procedeu-se à eleição da câmara do novo município.
Em 8 de Março de 1723 criou-se o Concelho da Madalena, com as freguesias de Madalena (Vila), Bandeiras, e São Mateus. Extinto em 1895, foi restaurado por Decreto de 13 de Janeiro de 1898.
A partir de então o Concelho das Lajes do Pico ficou constituído pelas freguesias de São João, Lajes do Pico (Santíssima Trindade), Calheta de Nesquim e Piedade. Em 1980, por Decreto da Assembleia Regional, nº 24/80/A, de 15 de Setembro, foi criada a freguesia da Ribeirinha, desanexando-se o respectivo território da freguesia da Piedade.

Desenvolvimento: a terra e o mar

Já quando os homens chegaram pela primeira vez à Ilha, a encontraram rasa de pedra, que fora fogo vomitado pelos vulcões: pedras colossais, amontoadas a esmo, à semelhança das que se vêem soltas por cima dos calhaus e dos penhascos da costa (…). – Mas os desgraçados ergueram a fronte. Eram homens (…). Estarraçaram, escavacaram, removeram pedra, abriram caminhos – e a terra começou a surgir!
(Dias de Melo, Pedras negras (romance), 1964 (edição de 2003, pg. 29)

Nos primeiros tempos do povoamento a actividade económica baseou-se na cultura do trigo e do pastel (planta tintureira). Ainda no século XVI começa a ganhar relevo a cultura da vinha, em particular de casta verdelho, beneficiada pelos solos de origem vulcânica e pelas condições climatéricas. Durante séculos a produção vitivinícola domina outros recursos da terra e do mar. O verdelho do Pico durante mais de 2 centenas de anos teve fama internacional, nomeadamente, Inglaterra, Américas e Rússia, onde terá chegado à mesa dos czares. Em meados do século XIX o ataque do oídio destruiu as vinhas e originou o seu progressivo declínio. A aprovação pela UNESCO, em Julho de 2004, da Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico (criada em 1996), como Património Mundial da Humanidade, permitirá, entre outras coisas, proteger o importante património e dinamizar acções que impeçam o desaparecimento deste cultivo único no mundo.

«Ali, nas chãs de beira-mar, quase nem existia amostra de terra. Experimentaram meter a vinha por entre o burgalhau, nos interstícios das lajes e dos moledos. Se a camada pedregosa engrossava demasiado, escavavam buracos de quinze a vinte palmos de fundo por sete a dez de boca – e lá muito em baixo plantavam a videira.»
(Dias de Melo, Pedras negras (romance), 1964 (edição de 2003, pg. 30)

No século XVIII, duas ordens de factos tiveram uma profunda influência na vida dos picoenses, em particular nos das Lajes: catástrofes naturais (erupções vulcânicas, sismos e ciclones) destruíram terras e colheitas e em boa medida foram a principal razão de muitos homens procurarem outras formas de sustento em terras americanas; a intensificação da caça à baleia, provocada tanto pelos emigrantes de retorno dos EUA, como da afluência das embarcações baleeiras americanas às águas açorianas.

Na erupção do Pico dos Cavaleiros, em 1562, a lava esventrou a terra e dessa cesariana nasceu o “mistério” da Prainha. Solos de biscoito encarniçado onde farão a pulso despontar as vides ou estranhas árvores anãs, torcidas como anomalias japonesas. [...] Em 1718 outra erupção brutal varre searas, sufoca animais, aterroriza gente, as bocas de fogo abrem da terra e saem do mar arranques de lava. Depois, arrefeceu nos “mistérios” de S. João, Bandeiras e Santa Luzia. Em 1720 nova calamidade, de Julho até Dezembro escorreram sempre cinco cadeias ígneas até ao mar, solidificando outro “mistério”, o da Silveira. No chão, urzela, manto da terra ardida e lava solta. Conta-se que nesta deslocação costa a costa uma faixa permaneceu virgem. Um boi pastou até petrificar a lava, prometido ao Espírito Santo, os elementos respeitaram o que seria mais tarde sopa sagrada de pobres e vizinhos. Agora parece tudo apaziguado.
Fátima Maldonado, Lava de Espera (1996, pgs. 17-8)

No século XVI as populações açorianas terão aprendido com os biscainhos o ofício da caça à baleia. A meio do século XIX, tudo se propiciou para a sua intensificação. A terra das Lajes do Pico foi testemunha e protagonista desta saga de séculos. Foi e sempre será a Terra Baleeira.

«Um número razoável destes baleeiros provém dos Açores, onde os navios de Nantucket frequentemente fazem escala para aumentar a sua tripulação com os robustos camponeses destas costas rochosas. (…). Não se consegue explicar porquê, mas é dos ilhéus que saem os melhores caçadores de baleias.»
(Herman Melville, Moby Dick (romance), 1851 (edição de 2004, pg. 174)

A vinha e o vinho
A cultura da vinha está associada aos primeiros tempos do povoamento, nos finais do século XV. O vinho verdelho, a partir da casta do mesmo nome, ganhou reputação mundial ao longo dos séculos. A partir do século XIX são introduzidas novas castas que dão origem a vinhos de mesa tintos e brancos. O modo de cultivo, contra a aspereza dos terrenos vulcânicos quase sem terra vegetal, em currais (áreas muradas de pedra negra, de muito pequena dimensão), marca igualmente esta cultura na Ilha. Prova da sua importância local e mundial é o facto da UNESCO, em Julho de 2004, ter considerado a Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico (criada em 1996), como Património Mundial da Humanidade. Currais, maroiços (amontoados de pedra em forma de pirâmide), vinhas e adegas com seus equipamentos são elementos emblemáticos da vinha e o vinho.
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